Noções de Biodiesel
Texto de Otaviano Nestor de Oliveira*.
HISTÓRICO
No ano de 1.900, o alemão Rodolf Diesel demonstrou e funcionou seu motor com óleo de amendoim. Em 1.905, afirmou, profetizando na Feira Mundial de Paris: "Os países que utilizarem este motor com óleos vegetais, serão desenvolvidos". Já naquela época, segundo Thomas R. Fendel, a indústria fóssil se recusou a enveredar por este caminho racional, sendo inclusive o próprio Rudolf Diesel encontrado morto, pouco depois, boiando sobre as águas do Rio Reno.
Anos depois, os ideais de Rodolf Diesel foram retomados. Muitos estudos têm sido realizados para a obtenção do biodiesel. Com a alta constante do preço do barril de petróleo, a ciência está em busca de
novas fontes de energia.
O ciclo do petróleo está com seus dias contados. Segundo previsões, em trinta anos, sua extração será tão onerosa que inviabilizará sua exploração e comercialização.
Por outro lado, o mundo civilizado anda preocupado com o efeito estufa, diante da crescente destruição da camada de ozônio, protetora dos efeitos da radiação solar.
Após a Eco 2.000, no Rio de Janeiro e assinatura do Protocolo de Kyoto, as pessoas passaram a se preocupar mais com o meio ambiente e com o futuro do nosso planeta. Afinal, defender o meio ambiente é
preservar a vida do homem e dos demais seres vivos do planeta terra.
BIODIESEL NO BRASIL
Na década de 70, em face da alta dos preços do barril de petróleo, o Brasil investiu muito na produção do álcool hidratado, uma alternativa ecologicamente correta para substituir a gasolina. A indústria automobilística passou a produzir carros com motores movidos a álcool. Os brasileiros acreditaram no projeto, mas acabaram decepcionados.
Entre os anos de 1983 e 1985, os preços do barril de petróleo chegaram a níveis baixíssimos, provocando grandes prejuízos para os que acreditaram no projeto do carro a álcool.
Adormecido há alguns anos, o programa do álcool reascende suas esperanças. As próprias montadoras adaptaram seus motores, com opções simultâneas para gasolina e álcool, ou gasolina e gás.
Em face da Lei federal 11.097, de 13.01.2005, modificada logo depois, a partir de 2.006, será obrigatória a adição de 2% de biodisel, óleo vegetal, ao diesel comum.
Em 2.013, essa adição passará para 5%, no mínimo. Só para o Estado de Minas Gerais, a partir de 2.008, prevê-se um consumo anual de quase 300 mil litros de biodiesel/dia.
Inaugurada pelo Presidente Lula, a primeira empresa de biodiesel a funcionar em escala industrial no Brasil, é a Soyminas, fundada pelo Prof.Artur Augusto Alves, situada no Município de Cássia-MG.
Tem uma produção de 20mil litros/dia. Os demais Estados brasileiros também se preparam para a produção de biodiesel, um projeto de longo alcance social, capaz de gerar milhares de empregos e bilhões de dólares para o Brasil.
O Prof. Artur faz por merecer os calorosos elogios que lhe foram dirigidos pelo Presidente da República, quando da inauguração da fábrica.
MATÉRIA PRIMA PARA O BIODIESEL
Pesquisadores dizem haver cerca de 200 espécies vegetais, que podem ser utilizadas na produção do biodiesel, batizado com o nome de OURO VERDE, tamanha a sua importância, não só para suprir o mercado interno, mas principalmente para a exportação.
O mundo está de olho no Brasil, que saiu na frente com o programa do álcool combustível e agora se prepara, com eficiência e farta matéria prima, para desenvolver o projeto do biodiesel.
Três coreanos, sendo um deles da Embaixada e os outros dois empresários, participaram do 2º CONGRESSO DE PLANTAS OLEAGINOSAS, ÓLEOS, GORDURAS E BIODIESEL, realizado em Varginha, nos dias 27, 28 e 29 de julho de 2.005. Estão interessados em adquirir 30 milhões de litros/ano, de biodiesel do Brasil.
MAMONA X PINHÃO MANSO
Inicialmente, os pesquisadores pensaram que a mamona seria o vegetal mais indicado na produção de biodiesel.
Até o Presidente Lula deixou clara sua preferência pela mamona, pensando tratar-se de uma planta de fácil manejo e alta produção. É um ledo engano, pois, a mamoneira é muito exigente quanto à regularidade da chuva e boa qualidade do solo. Pior que isso, é uma planta de plantio renovável, a cada ano.
Só se vêem bonitos pés de mamona na beira de córregos ou rios, em lotes de terreno vagos, ou próximos a currais, onde existem matéria orgânica do lixo, esterco e umidade.
Inquestionável o valor da mamona, para outras finalidades nobres, exceto para a produção de biodiesel, devido ao elevado custo de produção.
A apologia da mamona é uma farsa. Leva o pequeno produtor à escravidão. O valor de venda do produto não atinge, sequer, 50% do custo de produção. Segundo pesquisadores, a média de produção de mamona, por hectare, não chega a uma tonelada de grãos. Para cultivar um hectare de mamonas, há um custo aproximado de R$1.200,00, enquanto o produto é vendido por preços aviltantes: média de 250 a R$400,00
Outros pontos negativos da mamona, na produção do biodiesel:
1- A mamoneira é uma planta temporária. Produz, em média, uma tonelada
por hectare. Exige calagem do solo (aplicação de calcário), aração,
destoca e gradagem, recursos que o pequeno produtor não dispõe, devido
falta de recursos na aquisição de implementos.
2- Exige solo plano, sob risco da erosão. Altitude entre 500 e 800m do
nível do mar. Além do oneroso plantio, exige três capinas até adquirir
a fase da floração. Para capinar 1,0 há de mamoneiras, necessita-se de
15/dias homem. Ora, a plantação de mamona exige 3 capinas, logo serão
gastos 45 dias, para as três etapas.
3- A colheita é manual, feita em 3 ou até 4 etapas, em intervalos
regulares de 4 semanas. Consiste na quebra do cacho pelo pedúnculo. A
seguir, é feito o desprendimento dos grãos em processo artesanal. Já
existe colheita mecanizada, mas fora do alcance do pequeno produtor,
personagem principal do projeto governamental.
4- Uma tonelada de mamona vale no mercado brasileiro, cerca de
R$350,00. Seu custo de produção é superior ao preço de venda, logo,
inviável o seu cultivo. Levaria o pequeno produtor ao empobrecimento e
o empresário veria interrompido o seu projeto industrial. Exemplo
recente, é o de uma indústria de óleo, da cidade de Janaúba, no norte
de Minas, que está desativada e à venda: um dos motivos é a falta de
matéria prima.
PINHÃO MANSO COMO SOLUÇÃO
O pinhão manso é a "coqueluche" do momento, segundo o Prof. Pedro Castro Neto, da Universidade Federal de Lavras e Coordenador do 2º Encontro de Biodiesel, realizado em 27/28 e 29 de julho 2005, na cidade de Varginha. Para o Prof. Artur Augusto Alves, Diretor da Soyminas, em Cássia-MG, o pinhão manso surge como a melhor solução vegetal para a produção de biodiesel, por ser uma planta perene, que tem vida útil de até 50 anos.
1- O pinhão manso produz até 12 toneladas por hectare, 12 vezes mais
que a mamoneira. É uma planta rústica, que tem o caule esverdeado.
Adquire a altura aproximada de um pé de café, embora menos denso
quanto à folhagem. É encontrado nos Estados da Bahia, Minas, Rio de
Janeiro e São Paulo. No meio rural, era muito utilizado na produção de
sabão.
2- Os grãos ou bagas caem ao solo quando maduros, envoltos por uma
casca que os protege contra a umidade do solo.
3- A colheita é fácil, normalmente feita por mulheres ou adolescentes,
com menor custo.
4- O farelo do pinhão é utilizado na produção do álcool, um dos
componentes do biodiesel. Já o farelo de mamona, só se presta como
adubo orgânico,
5- Cumpre ressaltar ainda, que o pinhão manso é um arbusto muito
bonito, utilizado como árvore decorativa, ou cercas divisórias. Pela
sua utilidade na produção artesanal de sabão, é encontrado na frente
ou quintais das casas rurais. Floresce aos oito meses, adquire plena
produção a partir de 2 anos. Tem vida útil até 40 anos ou mais. Para
os místicos, combate mal olhado.
NOSSA VISITA À INDÚSTRIA DE CÁSSIA
Em junho de 2005, fui a Cássia-MG, conhecer a Indústria de Biodiesel, fundada e dirigida pelo Prof.Artur Augusto Alves, considerado o maior, senão um dos maiores pesquisadores do assunto no Brasil. Trata-se de um Engenheiro e Professor Universitário, devotado às pesquisas científicas, principalmente sobre biodiesel. É um grande patriota. Faz suas pesquisas, sem qualquer ajuda financeira institucional. Ao entrar nas dependências da empresa, senti como se estivesse numa padaria, com aquele cheiro agradável de fermento e óleo. A fábrica situa-se próxima ao centro urbano, sem qualquer problema de poluição. Recentemente, o Prof.Artur foi visitado por empresários suecos e de altos dirigentes da Scânia, interessados no seu projeto de biodiesel. Não só ele está desenvolvendo estudos sobre essa nova fonte energética. O Prof. cearense, Expedito Parente, em 1.977, registrou a 1ª patente do biodiesel do País. Por não ter desenvolvido o projeto em tempo hábil, perdeu seu direito.
INDÚSTRIA DE BIODISEL EM BARBACENA
Visitei também a fábrica de biodiesel que está sendo construída na cidade de Barbacena, a cerca de 200m do Hotel Grogotó, um dos melhores da região. Tem inauguração prevista para setembro próximo. Usará como matéria prima, principalmente, o nabo forrageiro, uma planta oleaginosa exigente quanto à qualidade do solo. Laboratórios de pesquisa nacionais, trabalham a todo vapor, em parceria com empresas como a montadora Peugeot, a Coca-cola e até a rede Mc Donald's com iniciativas que visam aproveitar o óleo da fritura e outros resíduos gordurosos, na produção do diesel. Desnecessário dizer que as indústrias de biodiesel não poluem. Afinal, elas estão sendo instaladas, não só para preservar as poucas reservas de petróleo, mas principalmente para evitar a poluição do meio ambiente.
(fontes de pesquisa: Prof.Artur Augusto Alves, Emater, UFV,UFLA,
UNICAMP, Darlene Menconi e Patrícia Pappalardo).
*Otaviano Nestor de Oliveira é Advogado, OAB/MG. formado pela UFMG em 1966 e Professor, formado em Letras pelo INESP de Divinópolis em 1975. Cidadão Honorário e Ex-Vice-Prefeito de Lagoa da Prata/MG.
Autor dos blogs:
http://autobiografiadeumidiota.blogspot.com/
http://diariodeviagembilabernardes.blogspot.com
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